sexta-feira, 5 de abril de 2013

Estrangeiro aposta contra a Bovespa


Valor Econômico: 04/04/2013

Por Téo Takar, José Sergio Osse e Ana Paula Ragazzi | De São Paulo e do Rio

Entrada de capital estrangeiro na Bovespa, historicamente, sempre foi sinônimo de alta da bolsa brasileira. Essa relação, no entanto, foi rompida no início deste ano. O Ibovespa caiu 7,5%, no seu pior primeiro trimestre desde 1995, enquanto o fluxo de recursos externos para a bolsa alcançou R$ 8,5 bilhões (US$ 4,2 bilhões), o maior ingresso desde o segundo trimestre de 2009, segundo a Bovespa.

O que está por trás desse descolamento é a decepção dos investidores com a atuação do governo, seja pelas incertezas na condução da política monetária, seja pelas intervenções em setores como energia e o bancário. Aliado a isso está o fato de o Ibovespa ser um índice concentrado em commodities, cuja demanda global também mostra fraqueza.

"Não tem uma semana que não haja uma notícia, normalmente atrelada a esses dois pontos, que desestabilize os negócios. A volatilidade está muito grande. Além disso, é fácil fazer hedge no Brasil, pois a Bovespa tem um ambiente muito seguro para esse tipo de operação. É fácil ficar short [vendido] em Brasil", afirma Mauro Oliveira, responsável pela mesa de ações da corretora Credit Suisse.

De fato, a posição vendida dos estrangeiros em Ibovespa Futuro nunca esteve tão alta, alcançando 154 mil contratos no fim de março, com volume financeiro de R$ 8,6 bilhões. Os estrangeiros costumam manter em torno de 100 mil contratos. No segmento de aluguel de ações - operação que também é usada pelos investidores que querem apostar na baixa da bolsa -, a bolsa teve recorde de R$ 89,4 bilhões em março, com estrangeiros respondendo por 20% dos empréstimos.

Além de se proteger contra as oscilações da bolsa, esses investidores também vinham recorrendo ao mercado futuro como forma de realizar operações de renda fixa por meio da bolsa e assim escapar da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% incidente sobre negócios de renda fixa feitos por estrangeiros.

"É uma operação clássica, muito utilizada por investidores sofisticados, no qual se faz uma posição comprada no mercado à vista de ações e, ao mesmo tempo, uma posição vendida no mercado futuro. O investidor fica "travado" no mercado e ganha a taxa de juros embutida entre o preço à vista e o futuro", explica Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos.

Para afastar especuladores e corrigir distorções no preço do real, que ameaçavam a competitividade de exportadores brasileiros, o governo decidiu adotar controles de capitais mais duros. Em 4 de outubro de 2010, elevou de 2% para 4% a alíquota do IOF incidente sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa. Duas semanas depois, elevou essa alíquota para 6%.

O efeito desse controle sobre o câmbio se diluiu nos meses seguintes e, em 27 julho de 2011, o governo anunciou a imposição de 1% de IOF sobre margens de posições vendidas em operações com derivativos cambiais na Bolsa de Mercadorias & Futuros. Um dia antes, o dólar havia marcado sua menor cotação desde a desvalorização do real, em janeiro de 1999.

Ao "travar" taxas para aproveitar a diferença de pontos entre o Ibovespa à vista e o futuro, o investidor estrangeiro consegue ganhos semelhantes ao da renda fixa, mas sem o "pedágio" do IOF, explica, Carlos Augusto Nielebock, especialista de bolsa da Icap Brasil. "O estrangeiro está hedgeado [protegido] na Bovespa, seja pela trava com o futuro, seja pelas operações de aluguel."

Pelas estimativas de Nielebock, pelo menos metade dos 154 mil contratos de índice futuro estariam ligados a operações de "trava" de taxa de juros, enquanto o restante seria, efetivamente, uma aposta de baixa da Bovespa.

"O México é o mercado para o qual o Brasil está perdendo espaço", diz Ítalo Abucater, especialista de câmbio da Icap. "E quem já está aqui, tenta driblar esses controles de capitais com operações em bolsa travando taxas."

A avaliação dos especialistas é reforçada por números de fluxo de capitais de fundos de investimento globais, que são processados pela consultoria EPFR Global semanalmente. Ao contrário do que mostram os dados de capital externo divulgados pela Bovespa - que mapeia apenas o fluxo que entra e sai da bolsa brasileira -, a EPFR indica que os fundos globais reduziram sensivelmente sua exposição a índices e ações ligados ao Brasil.

No período de cinco semanas encerrado em 27 de março, houve uma saída líquida de US$ 1,757 bilhão de recursos para fundos de ações de países desenvolvidos e também para índices de papéis do México. O dado contrasta com o fluxo positivo para ativos brasileiros registrado desde o fim de agosto, segundo a EPFR Global.

Nos últimos 30 dias, os fundos de índice (conhecidos pela sigla ETF em inglês) emergentes, como o MSCI Emerging Markets, perderam US$ 5,2 bilhões, com destaque para o fundo de Brasil (MSCI Brazil Capped - EWZ), que teve saída de US$ 585 milhões. "Temos notado que a aversão do investidor ao risco cresceu nas últimas semanas após o episódio da crise no Chipre", observa Nielebock.

Um ponto de atenção será o vencimento do índice futuro, no próximo dia 17. "Se a percepção de mercado estiver mais positiva e essas posições não forem roladas, a situação da bolsa melhora. Se aumentar mais após o vencimento, o quadro ficará mais preocupante", afirma Oliveira, do Credit Suisse.

2 comentários:

  1. Ah ta, agora tá explicado pq os gringos estão comprados no IBOV e vendidos no futuro, um tipo de hedge com taxa de renda fixa! Eu não tava entendendo pq estavam hedgeando desse jeito, agora tá blz! Em suma, o mercado local tá feio mesmo... hehehe parecia que os gringos estavam comprando, quando na realidade tão só fazendo financiamento sofisticado! O seu estudo está mais de acordo com a realidade, as corretoras gringas estão mais vendendo mesmo! Renato, vc viu que a CS Hedging Griffo parece que diminuiu bastante o número de negócios no último mês, será que mudou a corretora por onde operam??? Abs, Cassio

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    1. boa Cassio, legal msm a matéria. No caso da Griffo estão unificando as operações com o controlador Credit e os clientes estão sendo migrados. Perceba que o volume do Credit aumentou muito e gradativamente o volume da Griffo tende a acabar.

      Abraços.

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